quinta-feira, 25 de outubro de 2012


MATERIAL ADICIONAL


Primeiro Natal de Cinquenta.

Meu suéter é áspero e cheira a novo.


Tudo é novo. Tenho uma nova mãe. É uma médica. Tem um estetoscópio que posso colocar
em meus ouvidos e escutar meu coração. Ela é amável e sorri.
Sorri o tempo todo. Seus dentes são pequenos e brancos.
-Quer me ajudar a decorar a árvore, Christian?
Há uma grande árvore na sala com os grandes sofás. Uma grande árvore. Eu já havia visto uma,


porém nas lojas. Não dentro, onde estão os sofás. Minha nova casa tem muitos sofás, não
apenas um sofá.
Apenas um sofá marrom e pegajoso.


-Aqui, veja.
Minha nova mãe me mostra uma caixa que está cheia de bolas. Muitas bonitas bolas
brilhantes.


-Estes são enfeites para a árvore.
En-fei-tes. En-fei-tes. Minha cabeça pronuncia as palavras. En-fei-tes.
-E estes... –
Ela para e tira uma fita com flores –
Estas são as luzes. As luzes primeiro e logo


podemos enfeitar a árvore. –
Se estica e coloca os dedos em meu cabelo. Eu gosto de estar
perto da minha nova mãe. Ela cheira bem. A limpeza. E só toca o meu cabelo.

-Mamãe!
Ele está chamando. Lelliot. Ele é grande e barulhento. Muito barulhento. Ele fala. O tempo
todo. Eu não falo nada. Não tenho palavras. Tenho palavras na minha cabeça.


-Elliot, querido, estamos na sala.


Ele chega correndo. Estava na escola. Tem um desenho. Um desenho que pintou para minha
nova mãe. Ela também é a mãe de Lelliot. Ela se ajoelha, o abraça e olha o desenho.
É uma casa com uma mãe, um pai, um Lelliot e um Christian. Christian é muito pequeno no


desenho de Lelliot. Lelliot é grande. Ele tem um grande sorriso e Christian tem uma cara triste.
Papai também está aqui. Ele anda até mamãe.



Seguro forte meu cobertor. Ele beija minha nova mãe e minha nova mãe está assustada. Ela
sorri.

Ela lhe devolve o beijo. Eu aperto meu cobertor.
-Olá, Christian. –
Papai tem uma voz profunda e suave. Eu gosto da sua voz. Ele nunca fala
duro. Não grita. Ele não grita como... Ele lê livros para mim quando vou para a cama. Lê para
mim sobre um gato e um chapéu e ovos verdes e presunto. Eu nunca vi ovos verdes. Papai se
inclina, assim fica pequeno.

-O que você fez hoje?
Mostro a árvore para ele.
-Comprou uma árvore? Uma árvore de Natal?
Digo que sim com a cabeça.
-É uma bonita árvore. Você e a mamãe escolheram muito bem. É um trabalho importante


escolher a árvore correta.


Pega em meu cabelo também, e eu fico muito quieto e seguro com força meu cobertor. Papai
não me machuca.
-Papai, olha meu desenho. –
Lelliot se zanga quando papai fala comigo. Lelliot se zanga

comigo. Lhe dou um tapa quando se zanga comigo. Minha nova mãe se zanga comigo quando
faço isso. Lelliot não me dá tapas. Lelliot tem medo de mim.

As luzes da árvore são bonitas.
-Aqui, deixa eu te mostrar. O gancho vai através desde o pequeno olho e logo pode pendurar
na árvore. –
Mamãe coloca um en-fei...en-fei-te vermelho na árvore. –
Tente com este sino.


O sino toca. O sacudo. O som é um som feliz. O sacudo de novo. Mamãe sorri. Um grande
sorriso. Um grande sorriso especial para mim.
-Você gosta do sino, Christian?
Digo que sim com minha cabeça e sacudo o sino mais uma vez e tintila feliz.
-Tem um sorriso adorável, querido.
Mamãe pisca e limpa os olhos com as mãos.
Acaricia meu cabelo.


-Me encanta ver seu sorriso.
Sua mão se move em meu ombro. Não. Recuo e aperto meu cobertor. Mamãe parece triste e
logo feliz. Acaricia meu cabelo.


-Devemos colocar o sino na árvore?




Minha cabeça diz que sim.

-Christian, deve me dizer quando tiver fome. Pode fazer isso. Pode pegar a mão da mamãe e
levar mamãe até a cozinha e sinalizar. –
Sinaliza com seu largo dedo para mim. Sua unha é
brilhante e rosa. É bonita. Mas não sei se minha nova mãe está zangada ou não. Eu terminei
todo meu jantar.

Macarrão com queijo. Muito bom.

-Não quero que sinta fome, querido. De acordo? Agora gostaria de um pouco de sorvete?

Minha cabeça diz que sim, mamãe sorri para mim. Eu gosto dos seus sorrisos. São melhores
que macarrão com queijo.

A árvore é bonita. Eu paro, olho e abraço meu cobertor. As luzes brilham e são de diferente
cores e os en-fei-tes são todos de diferentes cores. Eu gosto dos azuis. E em cima da árvore
tem uma grande estrela. Papai levantou Lelliot e Lelliot colocou a estrela. Lelliot gostou de
colocar a estrela na árvore. Eu quero colocar a estrela na árvore... Mas não quero que papai
me carregue. Não quero que me segure. A estrela é muito brilhante.

Junto da árvore há um piano. Minha nova mamãe me deixa tocar o branco e preto no piano.

Branco e preto. Eu gosto dos sons brancos.

O som preto é ruim. Mas eu gosto do som dele também. Vou do branco ao preto. Branco ao
preto.

Preto ao branco. Branco, branco, branco, branco.

Preto, preto, preto, preto. Eu gosto do som. Eu gosto muito do som.

-Quer que eu toque para você, Christian?

Minha nova mamãe se senta. Toca o branco e o preto, e as canções começam. Ela pressiona os
pedais debaixo. As vezes é barulhento e as vezes é silencioso. A canção é feliz.

Lelliot também gosta que mamãe cante. Mamão canta sobre um patinho feio. Mamãe faz um
divertido barulho de pato. Lelliot faz um divertido som de pato e mexe os braços como se
fossem asas e os levanta para cima e para baixo como uma ave. Lelliot é divertido.

Mamãe ri. Lelliot ri. Eu sorrio.

-Você gosta da canção, Christian? –
E mamãe tem sua cara triste-feliz.

Tenho uma meia. É vermelha e tem um desenho de um homem com um chapéu vermelho e
uma grande barba branca. É um santo. Santo que traz presentes. Já vi fotos do santo, mas ele
nunca me trouxe presentes antes. Eu era mal. Santo não traz presentes às crianças que são
más. Agora eu sou bom. Minha nova mamãe disse que sou bom, muito bom. Minha nova
mamãe não sabe. Nunca devo dizer a minha nova mamãe... Mas sou mal. Não quero que
minha nova mãe saiba disso.
 Papai coloca a meia em cima da chaminé.

Lelliot também tem uma meia. Lelliot pode ler a palavra na meia, disse Lelliot. Tem uma
palavra na minha meia. Christian. Minha nova mamãe soletra: C-H-R-I-S-T-I-A-N

Papai se senta na minha cama, lê para mim. Seguro meu cobertor. Tenho um grande quarto.
As vezes o quarto é escura e tenho sonhos ruins. Sonhos ruins sobre antes. Minha nova mãe
vem para cama comigo quando tenho sonhos ruins. Ela se encosta e canta canções suaves e eu
durmo. Ela cheira suave, a novo e bonito. Minha nova mãe não está fria. Não como... não
como... e meus sonhos ruins vão embora quando ela está ali deitada comigo.

Santo esteve aqui. Santo não sabe que eu andei sendo mal. Me alegra que Santo não saiba.
Tenho um trem, um avião e um helicóptero. Meu helicóptero pode voar. Meu helicóptero é
azul. Voa ao redor da árvore de natal.

Voa sobre papai e voa sobre Lelliot enquanto ele joga com o Lego. O helicóptero voa através
da casa, através da mesa, através da cozinha. Ele voa pela porte do escritório do papai e sobe,
no meu quarto, no quarto de Lelliot, no quarto de mamãe e papai. Ele voa pela casa, porque é
minha casa. Minha casa onde vivo.

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